terça-feira, 9 de março de 2010

Diário de um Sedutor



"Nada mais torturante posso imaginar que a aflição de uma inteligência inquieta que perde seu fio condutor e que, ao despertar a consciência que tenta desvencilhar-se do labirinto, volta contra si mesma toda a penetração cerebral. As numerosas saídas de sua cova de raposo são inúteis para ele. Quando crê alcançar a luz do dia, ei-lo novamente diante de nova entrada e, qual fera assustada, na desesperada luta que trava consigo mesmo, tenta sempre sair, mas sempre encontra apenas entradas que procuram atraí-lo.
Um homem assim não comete crimes, porque a miúdo é enganado pelas próprias superstições, mas recebe castigo muito mais terrível que o de verdadeiro delinquente, porquanto, de fato, que é a dor da expiação comparada a esta consciente loucura?
O castigo terá para ele caráter puramente estético: o despertar da consciência é demasiado ético, em sua maneira de pensar. Nele, a consciência aparece somente em forma de um conhecimento mais elevado que se manifesta como inquietude; nem se pode dizer sequer, com propriedade que o acusa, mas apenas que o mantém desperto e tal inquietação rouba-lhe o repouso. Nem se pode crer seja um demente: a multiplicidade de seus pensamentos não se fossilizou na eternidade da loucura."


Trecho extraído da obra Diário de um Sedutor, de Sören Kierkegaard, com a intenção de dispensar sinopse.


Eu recomendo!

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